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NOSSO LAR em linguagem de hoje - André Luiz e Chico Xavier - Capítulo 02 - Clarêncio
Publicado em: 02 de junho de 2007, 12:08:20  -  Lido 5959 vez(es)



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NOSSO LAR em português de hoje em dia
Pelo espírito André Luiz - Série Nosso Lar
Psicografado por Chico Xavier (Francisco Cândido Xavier)
Adaptado por Maisa Intelisano - http://colunas.voadores.com.br/maisa
Este projeto visa uma maior popularização e compreensão da mensagem de André Luiz
Divulgado pela lista voadores: http://lista.voadores.com.br
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2

CLARÊNCIO


"Suicida! Suicida! Criminoso! Infame!" - gritos como estes me cercavam de todos os lados. Onde estavam esses mercenários insensíveis? Algumas vezes, eu os via de relance, deslizando na escuridão, e, no auge do desespero, eu os atacava, indo ao limite de minhas forças. No entanto, em vão eu esmurrava o ar com toda minha raiva. Escutava gargalhadas sarcásticas, enquanto os vultos escuros desapareciam nas sombras.

Para quem apelar? A fome me torturava, a sede me escaldava. Os fenômenos mais banais da vida física apresentavam-se claros aos meus olhos. A barba havia crescido, a roupa começava a se rasgar com os meus esforços naquela região estranha. O mais doloroso, no entanto, não era o terrível abandono em que me sentia, mas o assédio constante de forças perversas que me atacavam de repente nos caminhos desertos e escuros. Irritavam-me, aniquilavam-me a capacidade de ordenar idéias. Queria pensar com maturidade sobre a situação, procurar razões e estabelecer novas diretrizes para o pensamento, mas aquelas vozes, aqueles lamentos misturados com acusações pessoais, deixavam-me completamente desnorteado.

- O que vc está procurando, infeliz! Aonde vai, suicida?

Críticas como essas, repetidas sem parar, perturbavam meu coração. Infeliz, sim; mas suicida? - nunca! Essas acusações, no meu entender, não eram verdadeiras. Eu tinha deixado o corpo físico contra a minha vontade. Lembrava de minha luta obstinada com a morte. Parecia que ainda ouvia os últimos pareceres médicos na Casa de Saúde; lembrava a assistência dedicada que tinha recebido, os curativos dolorosos que havia enfrentado durante o longo período após a delicada cirurgia dos intestinos. Enquanto recuperava essas lembranças, sentia o contato do termômetro, a picada desagradável das injeções e, finalmente, revia a última cena antes da morte: minha esposa, ainda jovem, e os três filhos me olhando, no desespero da separação final. Depois... acordar na paisagem úmida e escura e a grande caminhada que parecia interminável.

Por que o rótulo de suicida, quando tinha sido obrigado a abandonar a casa, a família e o convívio agradável com as pessoas queridas? Até o homem mais forte tem limites para a resistência emocional. Firme e decidido no início, comecei a me entregar a longos períodos de desânimo, e, longe de manter a firmeza moral, por não saber o que me aconteceria, senti que o choro, por tanto tempo contido, irrompia com mais frequência, aliviando o coração.

A quem recorrer? Por maior que fosse a cultura intelectual trazida do mundo, não poderia mudar agora a realidade da vida. Meus conhecimentos, perante o infinito, pareciam bolhas de sabão carregadas pelo vento forte que transforma as paisagens. Eu era alguma coisa que o tufão da verdade arrastava para muito longe. Entretanto, a situação não modificava a minha outra realidade íntima. Perguntando a mim mesmo se não tinha enlouquecido, percebia a consciência vigilante, me mostrando que eu continuava a ser eu mesmo, com o sentimento e a cultura alcançados durante a vida física. As necessidades fisiológicas continuavam, sem modificação. A fome me castigava por inteiro e, ainda assim, o abatimento progressivo não me fazia cair completamente exausto. De vez em quando, eu via verduras, que me pareciam agrestes, em torno de humildes filetes d'água onde eu me atirava cheio de sede. Devorava as folhas estranhas, colava a boca ao fio de água turva, enquanto eu ainda podia lutar contra as forças irresistíveis que me empurravam para frente. Muitas vezes suguei a lama da estrada, lembrando do antigo pão de cada dia e chorando copiosamente. Com frequência, precisava me esconder das manadas enormes de seres animalescos que passavam em bando, como se fossem feras insaciáveis. Eram cenas estarrecedoras! O desalento se agrava. Foi quando comecei a me lembrar de que deveria existir um Autor da Vida, onde quer que fosse.

Essa idéia me aliviou. Eu, que tinha detestado as religiões do mundo, experimentava agora a necessidade de conforto místico. Médico extremamente apegado ao negativismo da minha geração, sentia que uma atitude renovadora se impunha. Era necessário reconhecer a falência do amor próprio, ao qual tinha me dedicado com orgulho.

E, quando todas as minhas energias se acabaram, quando me senti absolutamente jogado no lodo da Terra, sem forças para me levantar novamente, pedi a Deus que me estendesse suas mãos de Pai, numa emergência tão amarga.

Quanto tempo durou a rogativa? Quantas horas fiquei de mãos postas suplicando, como uma criança aflita? Só sei que o choro farto me lavou o rosto; que todos os meus sentimentos se concentraram na prece dolorosa. Será que eu estava completamente esquecido? Não era, como os outros, filho de Deus, embora não tivesse pensado em conhecer Suas leis quando encarnado? Por que Deus não me perdoaria, quando providenciava ninho para as aves inconscientes, e protegia, com bondade, a flor nova nos campos?

Ah! É preciso ter sofrido muito para entender as belezas misteriosas da oração; é necessário ter conhecido o remorso, a humilhação, a extrema falta de alegria, para aceitar, de coração, o socorro da esperança. Foi nesse instante que as neblinas grossas se desmancharam e alguém apareceu como um mensageiro dos Céus. Um velhinho simpático sorriu para mim como um pai. Inclinou-se, olhou pra mim fixamente com seus olhos lúcidos e falou:

- Coragem, meu filho! O senhor não desampara você.

Um choro cheio de amargura me aliviava a alma toda. Emocionado, quis falar da minha alegria, comentar o consolo que chegava para mim, mas, reunindo todas as forças que me restavam, pude apenas perguntar:

- Quem é você, generoso mensageiro de Deus?

O benfeitor inesperado sorriu com bondade e respondeu:

- Meu nome é Clarêncio e sou apenas seu irmão.

E notando que eu estava esgotado, acrescentou:

- Fique calmo e em silêncio agora. Você precisa descansar para recuperar as energias.

Em seguida, chamou dois companheiros que aguardavam com respeito e atenção, e disse:

- Vamos dar ao nosso amigo os socorros de emergência.

Lençol muito branco foi estendido ali mesmo como maca improvisada, enquanto os dois assistentes se dispunham a me transportar carinhosamente.

Quando me levantavam com cuidado, Clarêncio pensou um pouco e pediu, como se se lembrasse de compromisso inadiável:

- Vamos depressa. Preciso chegar a "Nosso Lar" o mais rápido possível.



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Maísa Intelisano


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