|
>> Colunistas > Benedicto Cohen (Bene) Ka, Ba, Corpo Astral, Alma... Publicado em: 04 de setembro de 2006, 17:03:26 - Lido 3011 vez(es) Para os antigos egípcios o todo (ou o self) era composto de diversas partes diferentes. Além da forma física existiam outras oito partes, algumas delas imortais e outras que sobreviviam por algum tempo à morte física, aqui na terra mesmo. Assim, o homem era formado por 9 partes. O significado exato destas partes já não é claro para nós. A idéia egípcia da Alma foi muito manipulada, ao longo do tempo, nas esperançosas tentativas de encaixá-la na idéia de alma que temos hoje. Mas a comparação já começa a perder o pé no momento em que lembramos que os egípcios, pra começar, não acreditavam em reencarnação. Assim, como vamos ver abaixo, nenhuma destas partes pode ser totalmente identificada com nossos conceitos modernos de corpo astral, duplo etérico, alma, etc., mas apenas correlacionada. Um exemplo disto é a comparação do Ka com o corpo astral. Hoje inclusive fala-se do Corpo Ka, que seria mais ou menos o corpo astral. Por aproximação, esta comparação até funciona. Mas existem grandes diferenças: O Ka é um duplo, e os egípcios acreditavam que os animais, as plantas, a água e até as pedras possuíam seu próprio Ka. Sim, o Ka de um homem podia sair por aí, enquanto a pessoa dormia, mas podia até ir morar para sempre numa planta, caso preferisse. O Ka podia também aparecer como fantasma ou obssessor, para outras pessoas que tivessem feito mal ao 'dono', mesmo enquanto este ainda estivesse vivo, atormentando a vida da pessoa que o prejudicara, até que esta corrigisse o mal feito. Mas a principal diferença é que o Ka tinha 'vida' e consciência própria. Depois da morte, então, a função do Ka era completamente diferente da do corpo astral. (veja abaixo). A propósito, outra confusão comum é associar o pássaro com cabeça humana a Ka (na verdade esta era a forma material adotada por Ba, não por Ka). Como Lionel Casson esclarece, no livro 'Ancient Egypt'(Wallis Budge diz praticamente a mesma coisa, no prefácio de sua tradução do Livro dos Mortos), as partes do todo que compõe o homem, segundo os egípcios, seriam as seguintes: (Aqui só é explicada a função de cada uma delas DEPOIS da morte física) Khat (Kha) - A forma física, o corpo que termina com a morte, a parte mortal do ser humano, que só pode ser preservada através de mumificação. Ka - O duplo, que permanecia na tumba, habitando o corpo ou mesmo as estátuas do morto, mas que era independente daquele e podia se mover, comer e beber, por vontade própria. Ba - O pássaro de cabeça humana, que voava em torno da tumba durante o dia, trazendo ar e alimento para o morto, mas que viajava com o deus RA, na Barca Solar, no fim do dia. Khaibit - A sombra do homem. Podia participar das oferendas funerárias e era capaz de se desprender do corpo e viajar, por conta própria, embora dependesse do Ba para existir. Akhu - Esta era a parte imortal, o ser de luz que habitava o intelecto, a vontade e as intenções do morto e que sobrevivia à morte e ascendia aos céus, para viver com os deuses. Sahu - O corpo espiritual incorruptível, que habitaria os céus, depois do julgamento feito pelos deuses (se fosse aprovado, é claro), com todas as habilidades mentais e espirituais do homem, enquanto vivo. Sekhem - A personificação incorpórea da força da vida, no homem, que voltaria a viver no céu com a parte imortal Akhu, após a morte. Ab - O coração. Era a fonte do bem e do mal, dentro da pessoas, e o centro dos pensamentos. Podia deixar o corpo, quando quisesse, e após a morte iria viver com os deuses ou seria devorado por Ammut, indo para a morte definitiva, caso não tivesse uma pesagem adequada, no julgamento final, onde era pesado numa balança. Ren - O nome verdadeiro, uma parte vital do homem em sua jornada através da vida e no pós-morte. Uma parte mágica, que poderia destruir um homem, caso seu nome fosse esquecido ou poderia dar poder ou ruína a ele. Por isto, as cerimônias para recebimento do 'nome verdadeiro' eram secretas, e a pessoa usava a vida toda um apelido, para que ninguém soubesse seu nome verdadeiro. Como dá para ver, o todo era uma mistura de partes espirituais, partes físicas e até do nome (algo bastante certo, a meu ver, inclusive em termos xamânicos). Parte deste todo ficava sujeita à decomposição (e não seria nada bom para as outras, se isso acontecesse), algumas das partes permaneciam cuidando do morto, aqui no físico mesmo, haviam partes eternas que voltavam para as fontes 'energéticas' de onde vieram, e haviam partes que eram julgadas após a morte, para 'sobreviver' ou não, mantendo a personalidade do morto (parece que a consciência, como nós a temos quando vivos, ficava com Sahu. Na verdade sahu é uma espécie de corpo espiritual, que agruparia as partes 'aprovadas' ). E havia, é claro, a parte do nome, tipo um registro de sua passagem pela terra, que não deveria ser esquecido pelos vivos, para o bem e sobrevivência do 'resto'. Bene -- Benedicto Cohen (Bene) beneluxbr@yahoo.com.br
|