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Neurose, Psicose... e individuação
Publicado em: 12 de setembro de 2007, 14:43:40  -  Lido 5963 vez(es)



> Lázaro escreveu: "(...)Por ex, simplificando muito, psicose poderia
> ser um domínio exagerado do inconsciente(...)
> Mac: Epa, ficou dúbio, vivente. Porque tanto pode parecer que o
> consciente domina demais o inconsciente, quanto o inconsciente
> domina demais o consciente (o que, acredito, é o que você está
> querendo dizer).


Estou dizendo mesmo as duas coisas. No primeiro caso, temos favorecimento de neuroses. No segundo, temos favorecimento de psicoses.

Uma estrutura saudável (e favorável à individuação, ou à construção do seu "corpo glorioso", interessantíssimo conceito) implicaria em um certo equilíbrio entre a vida consciente e inconsciente, que pode ser vista também como objetiva e subjetiva, masculina e feminina, material e espiritual, luminosa e "sombria", yang e yin.

Nesse sentido, penso que as projeções astrais são ótima ferramenta (consciência nos domínios do inconsciente), assim como a percepção de sincronicidades, psicanálise e psicologia analítica, aplicação de sonhos interpretados, espiritualidade no cotidiano (incorporação do insconsciente nos domínios do consciente).

A distorção ocorre porque:

1. Há uma confusão no uso do termo consciente, que pode ser tanto o complementar ao inconsciente (uso mais assim, substantivado, "o" consciente) quanto um termo associado à Consciência (estar consciente). Em muitas escolas projetivas, "consciência" é um termo maior, quase no sentido de "Atman". Nâo foi isso que chamei de "consciente".

2. Vivemos em um tempo e sociedade que valoriza demais a matéria, a lógica, o raciocínio, o dinheiro. Sâo valores importantes, mas não são únicos. Na história, quase sempre houve um papel maior para o místico e mítico, que no narcisístico momento pós-boomer ocidental a maioria perdemos. Isso implica que numa visão junguiana o próprio modelo da nossa sociedade é neurótica, por definição: valores do consciente, do objetivo e do material não se encontram em equilíbrio com seus complementos, mas sim sobrepujam o que vem do inconsciente, subjetivo e espiritual. Ora, isso é a PRÓPRIA estrutura da neurose. Ou seja, se nossa sociedade fosse uma mente (e de certo modo é), ela seria uma mente neurótica. E se estamos inseridos nela, vamos ver a neurose como um estado normal (distribuido representativamente na curva de Gauss).

OBS: Note, contudo, que uma sociedade tribal ou religiosa não é garantia de equilíbrio: algumas podem ter estrutura psicótica, ou seja, darem um peso desproporcional ao subjetivo, em detrimento no necessário consciente e material. Boa parte da Índia pobre e dos sadhus tem ou tinha esta característica, o que gera uma patologia social diferente, ainda mais quando isso vem sendo complementado por extremos neuróticos na parte mais "ocidentalizada" de lá.

Quis dizer que, em contraponto com a visão anteriormente citada sobre "normalidade, neuroses e psicoses" (a que vê como intensidades distintas na mesma dinâmica psíquica - por ex: "tristeza saudável, depressão comum e melancolia profunda") há também OUTRAS formas de se diferenciar neuroses e psicoses.

> Não seria melhor, mesmo simplificando, falar "um domínio
> exagerado pelo inconsciente"? Desculpe-me o preciosismo. Mas
> é que eu entendi (ou acho que entendi), assim como vários aqui.
> Mas outros tantos podem pegar pela outra margem dessa dubiedade.


Para o que eu queria dizer, não vi muita diferença. Mas fica melhor, sim. Então, leia-se que, nessa OUTRA visão simplificada de neuroses e psicoses, que não é necessariamente a minha principal:

Na estrutura neurótica, teríamos um domínio exagerado pelo consciente, sobrepujando o inconsciente; enquanto que na psicose, teríamos um domínio exagerado pelo inconsciente, sobrepujando o consciente.

Fica melhor assim?

Há uma terceira forma de ver, a partir da intervenção do ego.

Imagine uma estrutura dinâmica (teórica e didaticamente simplista) de uma pessoa em que o ID (desejos, impulsos - vindo do inconsciente) e o SUPEREGO (regras, repressões) falem alternadamente de modo bem forte.

Cabe ao EGO dar ouvidos a ambos, avaliar, e tomar suas decisões. Em parte ele é consciente, em parte é inconsciente (podemos engasgar sem motivo diante da amada que desejamos, por ex; ou "escolhermos" pedir sem ver o doce que o bom senso da nossa dieta deveria contra-indicar).

Se este EGO é muito forte, ele pode dar ouvidos demais ora aos desejos, ora às repressões. Temos aí o favorecimento de uma neurose bipolar.

Se, por outro lado, este EGO é bem fraco, na fase de total ID - sem mediação do ego - a pessoa pode se tornar quase uma psicopata / sociopata (os que não tem superego, não trabalham o lado positivo e limitador da culpa, não vêem as repercurssões de suas ações); enquanto que na fase de total SUPEREGO, sem ter ego para limitar, ela daria "ouvidos" a um estado de anulação dos desejos e bom senso, em favorecimento da culpa doentia. Há um favorecimento de psicoses: dependendo da alternância, e do que esse inconsciente propõe, pode ser que a pessoa-modelo desenvolva uma psicose-maníaco-depressiva (o que seria coerente com o primeiro modelo, onde esta é uma evolução do que chamamos hoje de bipolaridade 2, mais leve e neurótica).

Pode ser também que, com um ego instável, ora mediador ativo, ora sem ação, a pessoa tenha neuroses oriundas da repressão do superego (que tem atuação em parte consciente), consorciadas com psicoses oriundas do domínio do ID (que é inconsciente). Nesse caso, alternando entre neuroses e psicoses, teriamos (no modelo simplista e didático) uma estrutura borderline (é diferente do conceito de bipolaridade, que alterna manias e depressões, com ou sem estados psicóticos).

Ou seja, nessa terceira visão, um grande diferencial entre neurose e psicose seria a atuação do ego. Claro que dá para concluir daí que certas seitas de anulação do ego tem uma tendência natural ao surgimento de psicóticos entre seus "iluminados", mas isso já gera uma outra discussão derivada.

Há também a quarta visão, a do chiste popular, que resume toda a teoria destes meus dois posts:

"Neuróticos constroem castelos nas nuvens, psicóticos moram neles...
e psicanalistas cobram o aluguel!"



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Lázaro Freire
lazarofreire@voadores.com.br


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